“Eu renasci e quero ser feliz. O Viver Melhor me deu ânimo para isso”

Aluna do projeto, Isabel recupera autoestima após história repleta de dificuldades e, aos 61 anos, encara novos desafios

A aula mal começa e dona Isabel já está sorrido. A cena é repetida sempre que o estacionamento do Supermecado Imperial, em Mogi Mirim, recebe as atividades realizadas do Viver Melhor, iniciativa do Instituto Família Barrichello, que atua na promoção de uma vida mais saudável para as pessoas idosas. O espaço substitui temporariamente o Ginásio Maria Paula, no bairro Vila Dias, e é um dos quatro núcleos instalados pelo projeto na cidade do interior paulista, assim como a Acojamba (Associação Comunitária Jardim Maria Beatriz), o Clube São José e o Ginásio do Tucurão. Assídua, Isabel Cristina Frade Teodoro é exemplo para colegas de turma. A alegria contagiante, porém, não revela uma história repleta de dificuldades, superadas gradativamente com o auxílio do Viver Melhor.

“Eu participo do projeto desde o início, estou acostumada. É algo que marcou o meu renascer”, falou Isabel, que é pensionista. Aos 61 anos, ela sabe o que é enfrentar os desafios impostos pela vida. “Tenho uma depressão gravíssima e escuto vozes, sofro com a síndrome do pânico. Descobri isso há quase 20 anos. Quando tive o meu primeiro filho, passei os nove meses praticamente sem dormir. Na segunda gestação, os mesmos sintomas começaram com quatro meses e, então, resolvi ir ao médico, que me receitou um remédio para dormir. Aos poucos, voltei ao normal, meus filhos cresceram, criamos eles e tudo parecia estar bem. Mas passei por algumas situações que me trouxeram de volta o quadro de depressão. Deixei de comer, de dormir e de viver. Não contei isso para ninguém. Falei na época para o meu marido que eu via tudo escuro”, relatou.

Isabel perdeu o marido há sete anos. Pouco depois, enfrentou a morte do filho caçula, Renato. “Ele era mecânico de motos e morreu em uma trilha no mato. O Renato fazia ‘motores envenenados’, como dizem. Ele estudou e fez o dele, era um dos melhores da área. Mas, em uma trilha, ele sofreu uma queda, bateu a cabeça e não resistiu”, relembrou a pensionista, emocionada. O filho mais velho, Jorge, é hoje seu porto seguro. “Ele me deu uma neta, a Manuela, que está com 9 aninhos. Eu também tenho forças para cuidar da minha mãe, Benta, que está com 92 anos. Faço isso com alegria”, disse Isabel, que também recebe o suporte do Conselho de Atenção Psicosocial (Caps), em Mogi Mirim.

“Olho para trás e digo que foi uma sequência dura. Em dois anos, perdi o meu marido e depois o meu filho. Eu também cuidava da minha sogra, que tinha diabetes e era cadeirante. Ela amputou dedos e a perna. Fiquei com ela por um ano, mas morreu. Seis meses, foi a vez do meu marido, que também tinha diabetes. Dois anos mais tarde, o acidente fatal do meu filho. E olha como a história é pesada: mais dois anos se passaram e a ex-namorada do meu filho morreu em um incêndio. Foi muito duro, uma pancada atrás da outra. Mas, eu tenho fé e confio em Deus. Ele coloca e tira quando quiser. Se vivi isso, hoje entendo que é porque tinha capacidade de superar”, destacou.

O Viver Melhor é parte fundamental para a superação de Isabel. A aluna conta que é no projeto onde descarrega as energias negativas e fortalece a autoestima. A interação com colegas de aula também é vista como essencial. “Eu nasci para ser uma pessoa alegre, não gosto da tristeza. O projeto mexe com a mente e com físico, os exercícios me deram ânimo! Foi aqui que melhorei a minha tensão emocional, os meus pensamentos. Além disso, a socialização é super importante e o Instituto nos permite isso. Para quem sofreu como eu, é importante conversar, encontrar uma pessoa de confiança para expor os problemas e buscar ajuda. Não podemos guardar nada para nós e já ajudei as amigas daqui com o meu exemplo”, garantiu.

Encorajada pelas aulas – e pelos professores -, Isabel topou encarar recentemente mais um desafio: tirar a CNH (Carteira Nacional de Habilitação). A ‘saga’ começou há cerca de um ano. “Comecei a treinar, repeti o exame na primeira vez e os professores me deram força, falaram para eu não desistir. E aí eu pensei: quanto mais eu treinar, melhor vou ficar. Demorou, reprovei três vezes, mas na quarta tentativa eu consegui! Deu um gás, viu? Agora sou mais dona de mim. Vou na igreja, levo minha mãe no centro e passeio com ela”, detalhou, sorrindo, sem esquecer do filho mais velho. “O Jorge foi uma benção para mim, me incentiva muito. Foi um renascer e já matei a curiosidade de voar de avião e andar de navio, mas quero viajar mais”, disse.

Há dois anos, porém, Isabel teve uma recaída. Ela pediu ao filho para dar uma volta de carro, pois não aguentava ficar em casa. No meio do caminho, se jogou para fora. “É uma coisa que eu fiz não tem muito tempo (Isabel pausa e se emociona). Nessa época, eu tinha parado o tratamento com o Caps. Então, tive uma crise aguda de depressão e o meu filho me levou passear. No meio do caminho, eu me joguei do carro. Graças a Deus, não aconteceu nada. É por isso que eu sinto a necessidade de participar de coisas boas como o Instituto Família Barrichello. O projeto faz diferença para minha vida”, afirmou a pensionista, que não demorou para recuperar o sorriso e falar dos planos futuros. “Eu quero casar de novo. Ainda cuido da minha mãe, então não saio muito, mas já tenho o crush (risos). Tá bem encaminhado, mas também continuo na procura (risos). Vai dar certo, você vai ver!”, finalizou.